- EU SOU!
Sentir o cheiro acre
das ruas amorfas.
Andar com pressa
pelas calçadas
escuras
de postes apagados.
O mesmo itinerário
nas mesmas horas
mortas,
com muito sono
e com muita fome
e sem um tostão
nos bolsos, durão.
Olhar fachadas,
as mesmas balofas
e velhas de prédios
amontoados, passando
meus passos.
Deixando em cada
esquina
pedaços caindo,
desmoronando sonhos
de toda uma vontade
de ter também
um cadinho do mundo,
um pouquinho do céu.
Passar ouvindo
a sequência de ecos
dos próprios sapatos.
De tantos ouvi-los
repetidos, iguais
vão me parecendo
vozes
me acompanhando
e chamando
a cada instante meu
nome,
não me deixando
esquecer que sou,
que existo.
São coisas.
São partes de mim.
Me seguindo
a cada passo
nos meus calcanhares
por toda parte.
Coisas que
não me deixam mais,
ecos de vozes
andando comigo
nas horas mortas
as ruas amorfas.
Meus pés
martelando o cimento,
a série infindável,
enfim, marteladas
me lembrando
que sou
que existo.
[ Escrito em 1971, por
jovem que corria atrás dos seus sonhos. ]
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