"Somos os Mestres e as Mestras das Minas Gerais .
Somos uma corrente de Pensadores Independentes e Livres , mobilizados por uma Causa Comum .
Queremos a concretização , de fato e de direito , para uma Educação Pública Libertadora e Igualitária , de Qualidade e para Todos .
Queremos o '' Labore Nostru '' de cada dia , árduo , persistente e imprescindível de Operários do Saber , devidamente , Reconhecido e Valorizado .
Hoje , legitimado por Direito e por Justiça."

domingo, 29 de julho de 2018

Um dia... e faz tempo!


















Reminiscências do Passado:
Um dia...
e faz tempo!
Um dia...
e faz tempo!
Um dia sai
pra ver as coisas,
ver o mundo
e ser gente.
Um dia...
e faz tempo!
Era pequeno
e vi
a luta, lida,
labuta da vida.
Senti cá dentro,
me vi de repente
grande e forte
e vi que tinha
um caminho,
meu caminho
e segui.
Um dia...
e faz tempo!
Parti e deixei
os brinquedos,
a infância,
os amigos do peito.
Deixei uma saudade,
uma lembrança ficando
na hora de ir.
Deixei uma espera
toda no aceno
derradeiro dos lenços
me dizendo adeus.
E senti um aperto,
um abraço, um beijo
de pais e irmãos
ficando.
Só, assim mesmo,
fui e parti.
E foi,
como se fosse ontem, foi,
menino que fui!
Menino que quis
ter o mundo,
assim de repente,
todinho nas mãos.
E foi,
como se fosse ontem, foi,
menino que fui!
Que um dia sonhou
crescer e ser gente.
Que um dia acordou
e quando viu...
já era homem!

[Escrito por um jovem marinheiro em 1973, para o meu amigo Paulo Marliere de Ponte Nova – Minas Gerais.]


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Tempo de moleque peralta.


















Reminiscências do Passado:
Tempo de moleque peralta.
Meus pés descalços
se afundando
na poeira,
me remontam
a outros caminhos,
no tempo
da minha infância.
Da fazenda lembrada
onde nasci,
todos os dias
o mugido do gado
nos currais,
madrugada, ainda,
me acordando ligeiro
pra ver em cima
da porteira os retireiros
com seus baldes, de cócoras,
no aperto de dar
pra cedo, pra já,
todo o leite pro leiteiro.
Época de junho,
ocasião em que
o frio seco de Minas
cobria os campos,
tapava os pastos,
as invernadas,
por toda a parte
com o manto
da geada, queimando
os bananais,
o capim ralo do serrado,
estragando
roçados e cafezais.
Meus pés
de menino moleque
nem ligando,
fazendo pouco
do tempo e dos ralhos,
apoquentando
os mais velhos,
qual o que?!.
sentiam nada
o frio da geada
e corriam sem medo
atrás dos bezerros
numa disputa veloz, feroz,
de pega-los pelas orelhas,
com muito custo domá-los
e, o mais difícil, montá-los
e, não poucas vezes
aterrissando
no esterco frio
da madrugada.
Ah! Lembrar
lá atrás
é como se fosse
um punho fechando
todas as lembranças
e aí nasce
o bago espremido,
escorrendo as lágrimas
nos inundando as faces.
Agora eu vou
pra casa eu vou,
dentro de
minha memória
eu vou me vendo,
ah, um moleque peralta
tirando vez
de gente grande,
me fazendo boiadeiro,
esparramando tudo
quanto era bezerro
em mil direções,
por todo canto,
na alegria radiante
de pegá-los pelas orelhas.

[Escrito por
um jovem seminarista em 1964]




terça-feira, 10 de julho de 2018

Senões...


















Senões...


Passo, a cada passo,
sigo não sigo,
pré-moldados estabelecidos,
senões...
Meio perdido pra onde,
vazio na calçada,
ruas cheias, vômitos, gentes,
senões...
O ar transpira poluído,
pessoas respiram resíduos,
buzinas, sinais, asfalto,
senões...
Almas de encomenda,
o hoje de amanhã,
um sinal no espaço,
senões...
Pra onde o sonho,
o amanhã de esperar,
e enigma de depois,
senões...

[Escrito por um jovem marinheiro 
em 1971]



segunda-feira, 9 de julho de 2018

Calor anônimo da cidade.


















CALOR ANÔNIMO DA CIDADE.


Vejo
vultos de prédios
se desmanchando
na fumaça
do amanhecer
da cidade.
E meus passos
me levam
por entre
as florestas
de lajes e tijolos
se perdendo
 comigo
na aurora
sem sol
da cidade.
O barulho
das construções
se levantando cedo
acorda o
último operário
sem nome
que vem
pras obras
da cidade.
Por certo
o calor
do trabalho
anônimo,
escondido
nas brumas
persistindo
em envolver
cada colosso
arranha-céu,
sim, tanta
energia desprendida
na manhã
fria, sem sol,
será o incenso 
se elevando aos céus,
aquecendo
um pouquinho
cada parcela
por toda parte
da cidade.

[Escrito por jovem marinheiro
em 1970]