Pensamentos
e desejos de um seminarista e de um marinheiro.[ 1964 a
1976 ]
Se eu falasse.
Ah! Se toda
essa imensa
vontade de amar
falasse fácil
como essas letras,
nascendo assim
do tão simples gesto
de apenas um lápis
traçando-as,
corriqueiras
percorrendo os papéis...
Se eu pudesse
colocar na palma da mão
todo o meu sentimento
contido,
querendo explodir
por tantos anseios
e apertos do coração...
Se eu pudesse
dar agora
tanto amor armazenado
e desfizesse esse
nó me apertando a garganta
e falasse...
Ah! Afinal
falasse das coisas
que vai me ditando
o amor!...
[ 1972 ]
Calor anônimo da cidade.
Vejo
vultos de
prédios
se
desmanchando
na fumaça
do amanhecer
da cidade.
E meus passos
me levam
por entre
as florestas
de lajes e
tijolos
se perdendo
comigo
na aurora
sem sol
da cidade.
O barulho
da
construções
se
levantando cedo
acorda o
último
operário
sem nome
que vem
pras obras
da cidade.
Por certo
o calor
do trabalho
anônimo,
escondido
nas brumas
persistindo
em envolver
cada colosso
arranha-céu,
sim, tanta
energia
desprendida
na manhã
fria, sem
sol,
será o
incenso
se elevando
aos céus,
aquecendo
um pouquinho
cada parcela
por toda
parte
da cidade.
[ 1970 ]
Tempo de moleque peralta.
Meus pés descalços
se afundando
na poeira,
me remontam
a outros
caminhos,
no tempo
da minha
infância.
Da fazenda lembrada
onde nasci,
todos os
dias
o mugido do
gado
nos currais,
madrugada,
ainda,
me acordando
ligeiro
pra ver em
cima
da porteira
os retireiros
com seus
baldes, de cócoras,
no aperto de
dar
pra cedo, pra
já,
todo o leite
pro leiteiro.
Época de junho,
ocasião em
que
o frio seco
de Minas
cobria os
campos,
tapava os
pastos,
as
invernadas,
por toda a
parte
com o manto
da
geada, queimando
os bananais,
o capim ralo
do serrado,
estragando
roçados e
cafezais.
Meus pés
de menino
moleque
nem ligando,
fazendo
pouco
do tempo e
dos ralhos,
apoquentando
os mais
velhos,
qual o que?!.
sentiam nada
o frio da
geada
e corriam
sem medo
atrás dos
bezerros
numa disputa
veloz, feroz,
de pega-los
pelas orelhas,
com muito
custo domá-los
e, o mais
difícil, montá-los
e, não
poucas vezes
aterrissando
no esterco
frio
da
madrugada.
Ah! Lembrar
lá atrás
é como se
fosse
um punho
fechando
todas as
lembranças
e aí nasce
o bago
espremido,
escorrendo
as lágrimas
nos
inundando as faces.
Agora eu vou
pra casa eu
vou,
dentro de
minha memória
eu vou me
vendo,
ah, um moleque peralta
tirando vez
de gente
grande,
me fazendo
boiadeiro,
esparramando
tudo
quanto era
bezerro
em mil
direções,
por todo
canto,
na alegria
radiante
de pegá-los pelas orelhas.
[ 1964 ]
Assinado: mestresdasgerais
[ poeta? ] .
Nenhum comentário:
Postar um comentário