"Somos os Mestres e as Mestras das Minas Gerais .
Somos uma corrente de Pensadores Independentes e Livres , mobilizados por uma Causa Comum .
Queremos a concretização , de fato e de direito , para uma Educação Pública Libertadora e Igualitária , de Qualidade e para Todos .
Queremos o '' Labore Nostru '' de cada dia , árduo , persistente e imprescindível de Operários do Saber , devidamente , Reconhecido e Valorizado .
Hoje , legitimado por Direito e por Justiça."

terça-feira, 30 de outubro de 2012

REMINISCÊNCIAS DO PASSADO. 3ª PARTE.













Reminiscências do passado. 3ª Parte.
Pensamentos e desejos de um seminarista e de um marinheiro.[ 1964 a 1976 ]


Eu sou.

Sentir o cheiro acre
das ruas amorfas.
Andar com pressa
pelas calçadas escuras
de postes apagados.
O mesmo itinerário
nas mesmas horas mortas,
com muito sono
e com muita fome
e sem um tostão
nos bolsos, durão.
Olhar fachadas,
as mesmas balofas
e velhas de prédios
amontoados, passando
meus passos.
Deixando em cada esquina
pedaços caindo,
desmoronando sonhos
de toda uma vontade
de ter também
um cadinho do mundo,
um pouquinho do céu.
Passar ouvindo
a sequência de ecos
dos próprios sapatos.
De tantos ouvi-los
repetidos, iguais
vão me parecendo vozes
me acompanhando
e chamando
a cada instante meu nome,
não me deixando
esquecer que sou,
que existo.
São coisas.
São partes de mim.
Me seguindo
a cada passo
nos meus calcanhares
por toda parte.
Coisas que
não me deixam mais,
ecos de vozes
andando comigo
nas horas mortas
as ruas amorfas.
Meus pés
martelando o cimento,
a série infindável,
enfim, marteladas
me lembrando
que sou
que existo.
[ 1971 ] 



Abnegar.  

Viver é abnegar.
Abnegar tudo
e partir.
Partir sem esperar
pelo dia de amanhã.
Levar apenas
a roupa do corpo.
Levar muito ideal
nos bolsos.
Deixar pra trás,
até mesmo,
a paz do lar,
da mulher amada,
dos filhos lembrados.
Ir embora
sem olhar
num gesto derradeiro,
pousando as vistas
no que ficou,
sem medo de virar
estátua de sal.
Deixar pelas estradas
cada meada
a cada pousada
de todo um novelo
desfiando os fios,
medindo os caminhos
de paz e sossego.
Com tantas coisas
pra dar,
dando o que falar,
até findar
o fio da meada.
Abnegar é
sossegar os rompantes
da cólera que assanha.
É dar as mãos,
dar um beijo
e desfazer as rugas,
e ficando os sucos
marcando um sorriso.
É tanta coisa
pra dizer.
E o tempo passa,
se faz necessário partir.
Mas fica dado
o recado.
Vou-me embora,
vou agora.
Tem tanta gente
esperando por mim.
[ 1965 ]



Desejos machucados.

Estendi as mãos
sem saber...
Esperança!
Esperar...
Fiquei esperando.
Cansaço?!.
Não cansei.
Fiquei esperando.
E me doía os braços.
E minha fé
indo embora.
Me deixando
no desamparo
triste, amargo
do que sobrou
pra ficar comigo.
Mesmo assim fiquei
com as mãos estendidas
esperando e esperando.
Sono e desânimo
buscaram levar-me,
mas fiquei postado, fiquei!
Ainda sorri e sonhei!
Afinal chorei,
quando aquela
minha última esperança
se desvaneceu na
saudade do que
não veio.
Ah! Engoli as mágoas,
guardei-as minhas,
bem escondidinhas.
Ficaram só lembranças
de dedos súplices
se retraindo doidos,
escondendo nos bolsos
desejos machucados.
[ 1972 ]

Assinado: mestresdasgerais [ poeta? ] .

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