Memórias Póstumas de um Louco e
Apaixonado
! . . .
Aqui
jaz um amor que nem nasceu ,
não
viu , não sentiu a luz do sol ,
nem
oportunidades teve de se expressar
para
a sua pretensa amada …
Aqui
jaz um louco amor incendiado ,
tão
somente , por um simples sorriso ,
que
no seu entender lhe disse tudo ,
mas
só para a ventura , mas só para a desdita ,
que
nada lhe sobrou para lhe acalentar
os
seus olhos sequiosos , hoje , apenas secos
dos
desejos frustrados e cortados ,
já
, no nascedouro desta paixão não correspondida ...
Aqui
jaz um terno e único amor ,
oferecido
sem igual e sem medidas ,
sem
hora ou tempo para acabar ,
mas
sob juras e sob promessas
para
varar a eternidade …
Aqui
jaz um amor despudorado , belo ,
sem
vergonhas ou sem arreglos , não pediu licença ,
foi
entrando , sem mais aquela ,
na
vida da pretensa amada e devastando
e
lhe propondo e lhe provando tudo ,
restrito
nas possibilidades e na razão ,
que
, com certeza , daria certo ,
contra
tudo e contra todos , das incertezas alheias ,
ou
para os espantos , ou para os assombros
dos
espectadores desavisados , ou inconformados ,
ou
preconceituosos e mesmos invejosos …
Aqui
jaz um amor inteiro , verdadeiro e único ,
colocado
na palma da mão da pretensa amada
e
pretensa estrela vespertina,
colocado
no condão mágico da magia encantada ,
colocado
em fios de ouro nas salvas de pratas
este
amor cristal límpido e transparente ,
que
, agora , ofuscou-se lhe a luz e a claridade
e
a pretensa amada e estrela vespertina , já , se foi ,
o
condão mágico quebrou-se e acabou-se a magia
e
se lhe perdeu o encanto ,
os
fios de ouro se romperam , de vez , nas salvas de pratas
e
o amor cristal perdeu o brilho e a transparência ,
despencou-se
ao chão e se partiu
em
infinitos pedaços , que fica difícil ,
um
dia , juntá-los e reconstituí-los ...
Aqui
jaz um amor compungido , doído ,
que
tem levado seu dono ao desespero e a dor tem sido tanta ,
que
a própria dor vai se encarregando de amortecer
aos
poucos e anestesiar a mesma dor ,
que
o tempo tem se encarregado , também ,
de
completar a tarefa , serenando os ânimos
e
sossegando essa dor insana do dono desse coração …
Aqui
jaz um coração arrancado
do
peito e juntamente com as lembranças da sua
pretensa amada ,
último
recurso encontrado pelo dono ,
para
se esvaziar e desalojar esse inquilino amor concebido
e
que não deu certo e foi deixado extirpado e violado ,
insepulto
à beira da estrada ,
juntamente
com as recordações da pretensa amada
para secar ao sol
e
o vento e o tempo se encarregarão de varrer o resto ,
em
deteriorar a memória esquecida , póstuma
desse
coração inveterado e louco de paixão …
Aqui
jaz o infindável de muitas coisas que ,
já
secaram todas as lágrimas derramadas ,
ou
ainda por serem derramadas ,
já
secaram todas as palavras escritas ,
ou ainda por serem escritas ,
já
secaram todos os argumentos questionados na razão
e
no irracional ,
ou
ainda por serem questionados na razão e no irracional ,
já
secaram todos os arranjos do possível e do imaginável
apresentados
e perpetrados na boa fé e na inocência ,
ou
ainda por serem apresentados
e
perpetrados na boa fé e na inocência ,
já
secaram todas as loucuras da razão , bem como ,
todas
as sensatezes da demência ,
vida real e vida mirabolante ,
ou
ainda por virem vida real e vida mirabolante ,
já
secaram todas as vontades de persistir e não desistir
e
ficar sempre tentando e batendo às portas
deste
pretenso coração alheio feminino ,
mas
tudo isso , também , já são águas passadas ,
tempos cansados ,
ou
ainda por virem águas passadas , tempos cansados ,
já
secaram todas as tristezas havidas e ,
ainda , por haver ,
já
secaram todas as mágoas sofridas e ,
ainda , por sofrer ,
e
, agora , já não interessam mais ,
ou
ainda por virem ou serem repetidas e sofridas …
Onde
as vistas não puderam alcançar ,
onde
as mãos não puderam nem tocar ,
onde
não foram apercebidos os cheiros
e
nem ao menos o calor daquele corpo desejado ,
onde
nenhuma palavra foi dita ,
onde
a vontade insatisfeita findou e morreu,
onde
lhe bateram a porta na cara ,
onde
lhe escorraçaram o sonho ,
feito
cachorro sem dono ,
onde
nem ao menos lhe quiseram ouvir ,
onde
nem tentaram lhe enxergar a alma oferecida
de peito aberto ,
onde
um simples NÃO
dito franco
nos olhos
bastaria
o suficiente e com isso encerraria o equívoco dessa estória
e
ele levaria , sem mágoas ou ressentimentos ,
as
lembranças com carinho e no afeto daquele sorriso ,
e
mesmo assim , embora rejeitado estaria feliz
com
aquela pretensa amada ,
que
, um dia , não lhe quis e não poderia ter sido ,
de
jeitos e maneiras , a sua amada imortal …
E
com isso , aqui hoje e agora , já bastaria o bastante
para
esse amor bastardo e infeliz aborto concebido
e
, só , largado , jogado fora insepulto naquilo
que
um dia , simplesmente , aqui jaz a loucura e paixão …
Assinado
: mestresdasgerais
[
homem traspassado pela dor ,
pela
desilusão e perda . . . ]